7 de out. de 2010

Turismo de Favela e seus impactos na comunidade


Tratado até em telenovelas, o Turismo de Favelas tem gerado boa discussão por parte de planejadores de turismo.

No dia 17 de agosto do presente ano, o jornal Estado de S. Paulo publicou na coluna Visão Global, pág. A13, matéria do jornal norte americano The New York Times, assinada pelo queniano Kennedy Odede:

O Turismo não ajuda as favelas

Turistas que buscam esse tipo de aventura levam fotos e roubam o pouco de dignidade que restou nos moradores.

"O turismo em favela tem uma longa história. Nos anos 1800, nova-iorquinos ricos costumavam andar por Bowery e pelo Lower East Side para ver como a "outra parte" vive. Com as populações hurbanas no mundo em desenvolvimento se expandindo rapidamente, a oportunidade e a demanda para ver a pobreza diretamente nunca foram tão grandes. Os locais mais procurados são o Rio de Janeiro, Mumbai (Índia) graças ao filme Quem quer ser um milionário? e Kibera em Nairóbi (Quênia), maior favela da África e o local onde nasci.

O turismo em favelas tem seus defensores que dizem que ele promove a consciência social e propicia um bom dinheiro - que ajuda as comunidades.
Mas não vale a pena. Esse tipo de turismo transforma a pobreza em entretenimento, uma coisa experimentada momentaneamente e depois esquecida completamente. As pessoas acham que realmente viram alguma coisa, mas seguem suas vidas e vão embora e nos eixam, eu, minha família e minha comunidade da mesma maneira que antes.

Eu tinha 16 anos quenado vi pela primeira vez um grupo de turistas visitando a favela. Estava em minha cas de 9 metros quadrados lavando pratos, olhando para a louça com ansiedade porque não comia havia dois dias. De repente, vi uma mulher branca que me fotografava... Senti-me como um tigre na jaula. Antes que pudesse dizer algo ela já se fora.

os 18 anos fundei uma organização que presta serviços financeiros, desaúde e educação para os moradores de Kibera. Uma cineasta da grécia veio me entrevistar sobre o trabalho que realizamos e quando caminhávamos pelas ruas, passamos por um velho defecando em público. A mulher virou-se ara seu câmera e disse: "ei, olhe aquilo!". Por um momento vi minha casa pelos olhos dela: fezes, ratos, fome, casas tão próximas que não dá pra respirar. Não queria que ela visse isso, não queria dar a ela a oportunidade de julgar minha comunidade apenas pela pobreza.

Outros moradores de Kibera seguiram por outro caminho. Um ex colega de escola começou a trabalhar com turismo e certa vez, o vi entrando em uma casa onde havia uma jovem em trabalho de parto com um grupo de turistas. Eles pararam e olharam para a mulher que gritava... Em seguida, o grupo prosseguiu a visita com as câmeras repletas de imagens da jovem que se contorcia de dor. O que eles aprenderam?
A mulher ganhou alguma coisa da experiência deles?

Para ser justo, muitos estranjeiros vão ás favelas querendo entender a pobreza e partem para casa com o que acreditam ser uma melhor compreensão de nossa miséria. A expectativa, tanto dos visitantes como dos organizadores das visitas é que a experiência possa levar turistas a empreender alguma ação em seu país de origem.
O mais provável porém é que nada ocorra. Afinal, olhar as condições de vida em Kibera é algo desolador.

Imagino que muitos visitantes acham que já foi suficiente ter suportado ver uma tal situação de miséria. Além disso essas pessoas nunca interagem conosco, não há diálogo, apenas alguns comentários ocasionais. O turismo em favela é uma rua de mão única: Eles tiram fotos e nós, perdemos o pouco de dignidade que ainda temos. As favelas jamais desaparecerão por causa de uma dezena de americanos ou europeus que passam por aqui com câmeras na mão... Existe sim solução para nossos problemas, mas elas jamais virão de visitas guiadas".




Além do já sabido tour pelas favelas cariocas, operados por agências receptivas internacionais, as chamadas “incoming”, que recebem cerca 3,5 mil visitantes por mês segundo a revista Veja, favelas de São Paulo também já têm operação, inclusive de uma das maiores operadoras de receptivo do país, como segue em matéria do jornal O Estado de S. Paulo, no dia 18/07/2010: (disponível em http://www.estadao.com.br/noticias/geral,agencias-de-turismo-oferecem-passeios-a-favelas-de-sp,582810,0.htm)

Agências de turismo oferecem passeios a favelas de SP

Em 2009, 1,6 milhão de visitantes estrangeiros passaram pelo Brasil, o que representa um crescimento de 33% em relação a 2004. A maior parte visita pontos tradicionais, mas um contingente cada vez mais relevante se interessa em visitar cantões mais pobres e até mesmo favelas de capitais como São Paulo.

Como o passeio é quase sempre feito por encomenda, o preço é alto - um tour médio de três horas varia de R$ 80 a R$ 200 por pessoa. Por isso, os clientes mais comuns são gente abastada, como executivos de empresas estrangeiras que atuam no País, cônsules e artistas. Esse público dificilmente visitaria uma favela sozinho, por causa da preocupação com a segurança, mas as agências garantem que não há risco. "A primeira coisa que me perguntam é se é perigoso. Mas, se você entrar lá comigo, logo vai ver que não tem nada disso", diz a guia Flavia Liz Di Paolo, que organiza visitas a Paraisópolis e Heliópolis.

Para divulgar o tour, Flávia aposta na propaganda boca a boca, mas também faz parcerias com hotéis e agências turísticas no exterior. A agência Check Point - que, além de Paraisópolis e Heliópolis leva turistas para outras favelas e até para a cracolândia - adota táticas parecidas. "Temos de mostrar não só o que São Paulo tem de bonito, mas o outro lado também. Quando levo alguém para uma favela ou para a cracolândia, faço questão de mostrar que temos um problema, mas que estamos melhorando e logo mais não teremos aquilo. É algo que também faz parte da cidade", explica Luciano de Abreu, o diretor da agência.




Turismo de Favela é realmente um usurpador de dignidade? Em que formatos esta modalidade de turismo pode acontecer de forma sustentável?

10 comentários:

angela disse...

eu concordo que o turismo nas favelas nao vai mudar a realidade de vida deles, mas eu acredito que deva ser "saudavel" , deve haver visitações buscando mostrar as atividades sociais, os trabalhos artesanais que esse povo faz e não a vida precária de cada um (pobreza,fome, fatos constrangedores, como foi citado), favela é um lugar que as pessoas tem vontade de conhecer, é algo novo, diferente e todo estranhamento causa curiosidade.. eu acho que pode sim tornar um local turistico como bairros chiques também são (por ex Recoleta e Puerto Madero em Buenos Aires que são bairros ricos que se tornaram pontos turisticos pois mostra o bairro e não como é a vida das pessoas nele). Também acho que o dinheiro do turismo nas favelas deva ser destinado nas ações sociais que eles fazem, e nao a traficantes ou "qualquer um po ai".

Erika disse...

Na minha opnião isso é ''ridiculo'', que objetivo leva a turistas a visitarem as favelas. Não tenho preconceito nenhum com isso, mais pra mim isso é muito humilhante, se eles acham que isso vai levar a alguem se mobilizar com a situação dos morados estão enganados. Pois para os proprios moradores isso é humilhante, levar pessoas ricas para visitar a pobreza dos outros. Para uma pessoa ter consciência para ajudar outra ela não precisa ir até la ver, e ficar humilhando as outras pessoas. Todo mundo sabe o quanto é precaria a vida dessas pessoas, basta ajudar sem deixa-las constragidas. Por isso acredito que causa mais transtorno á elas, causando um impacto social e cultural.

wilson disse...

É certo que existem atrativos na vida da favela, mas “como se aproximar” e “por quê” são os discursos das agências. Assim a favela se transforma em um daqueles pontos turísticos “obrigatórios” do Rio de Janeiro – um dos que tem que ver. Desta maneira, observa Freire-Medeiros, “como trademark, a favela carrega um pesado fardo de representação. Atalho metonímico para tudo que é tropical, rústico e reciclável, a favela tornou-se um signo a que estão associados significados ambivalentes. É vista, a um só tempo, como território violento às margens da racionalidade, e local de solidariedades e autenticidades preservadas. Pois, afinal a imagem do turista é impensável sem sua câmera onde por vezes se torna o protagonista de sua própria história. “Na ficção cinematográfica, segundo Ismail Xavier, junto com a câmara, estou em toda parte e em nenhum lugar; e todos os cantos, ao lado das personagens, mas sem preencher espaço, sem ter presença reconhecida.
Viajar para lugares associados ao sofrimento nos remete às primeiras peregrinações religiosas, mas o que parece ser singular a respeito da experiência contemporânea são sua diversidade e popularidade. Cada vez mais turistas procuram experiências inusitadas, interativas, aventureiras e autênticas em destinos cujo apelo reside na antítese daquilo que se convencionou tratar como "turístico".

Cristiana disse...

Após ler essa matéria eu realmente fiquei com varias duvidas. Fiquei me questionando até que ponto o turismo em favelas é bom?

Por um lado vem os sentimentos de alguns moradores que pensam como o o reporter queniano Kennedy Odede: Que acha que nos morros não existe um tipo de turismo a se fazer a nao ser aquele onde mostra a pobreza e que tira a dignidade que restam a sua população. Onde muitos planejadores dizem propocionar mais ganhos para a populção e um visão social diferente da que os turistas tem.

Bom é complicado dizer que é certo se ter turismo em local onde a propria polução sente um preconceito gigantesco, acahando que o fato das pessoas estarem conhecendo suas formas de viver é roubar o pouco de dignidade que lhe restam. Penso por um lado o turismo pode serm ruim para moradores com essa ideia, porem por outro lado existem moradores que percebem o quanto o turismo pode se levar melhorias para a comunidade.

Uma das comunidades onde ja acontecem algumas melhorias é a Favela de Santa Marta em Botafogo (Zona Sul), onde dois anos após instalar a primeira UPP (Unidade de Polícia Pacificadora)conseguiu se derrubar o controle de traficantes de drogas e instalou programas como o Rio Top Tour, que é um programa de turismo em favelas pacificadas, feito em parceria do Sebrae-RJ com o Ministério do Turismo e a Secretaria Estadual de Turismo, Esporte e Lazer.

Outros exemplos sitados em outras materias que andei lendo foi que vários proprietarios de bares, estão renovando seus pratos e melhorando seus estabelecimentos para receberem esses turistas que alem de experimentarem pratos bem humildes e tipicos do rio, ainda podem se privilegiar que dormirem em pensões simples e que o que se tem de melhor é a simplicidade de seus proprietarios e ainda a bela vista que o morro proporciona da cidade ao seus redores.

Se existem moradores que pensam como o jornalista Kennedy, pq que a Secretaria de Turismo das cidades não realizao um trabalho com eles tentando reverter esse pensamento de que turismo em favela não é bom, mostrando os pontos positivos, como as melhorias que as favelas podem aderir com esse turismo, proporcionando a geraçao de empregos. Ja existem locais onde a Secretaria de turismo Marcia Lins do estado do rio da ja esta proporcionando para moradores das favelas cursos de gastronimia onde os moradores ganharao o selo AMIGO DO TURISTA. E para o ano que vem ela já pensa em desenvolver o roteiro gastronomico, assim envolvendo as comunidades pacificadas e com direito ate premios.

Creio que sao atitudes como estas é que farão que varios moradores apoiem o Turismo de Favela, com o pensamento de positivo de que se pode mostrar a realidade vivida por eles, porem mostrando também que eles são capazes de servir os turistas de uma forma bem simples e humildes, porem com um sabor delicioso.

NAYARA disse...

Não acredito que o Turismo em favelas seja usurpador da dignidade dos moradores desses locais, pois vejo esse tipo de Turismo como uma forma de aproximar classes sociais diferentes. É claro, que nem todos que optam por visitar uma favela vai conseguir sentir e vivenciar a essência daquele lugar, mas isso é um trabalho para as agências de viagens, ou seja, já que existem muitas críticas em relação ao Turismo de favelas, essas empresas deveriam mudam essa realidade. Contudo, não bastaria somente conscientizar os turistas que aquele passeio é para ser vivido e sentido intensamente, muitos projetos sociais também poderiam ser desenvolvidos entre o visitantes e moradores, assim haveria uma troca de experiência saudável, mesmo que muito pequena. Além disso, entendo que as agências de viagens deveriam passar alguma porcentagem de dinheiro para essas comunidades, assim elas poderiam investir no seu comércio, artesanato, escola de capoeira, etc. Desse modo, vejo que os moradores dessas favelas não se sentiriam explorados, pelo contrário compreenderiam que o turismo é uma atividade lucrativa e ao mesmo tempo solidária.
Por outro lado, percebo que essa não é uma ação fácil de realizar, pois existem vários fatores que podem influenciar negativamente do desenvolvimento do Turismo de favela sustentável, como por exemplo, líderes do tráfico podem banir esse tipo de visitação, os próprios moradores da favela podem por preconceito não aceitar turistas na sua comunidade, a falta de segurança pela briga entre traficantes de várias favelas podem ferir os turistas, os bandidos que moram nas favelas podem ver esse tipo de Turismo como uma forma de assaltar e seqüestrar pessoas, entre outros.
Enfim, realmente não basta às agências de viagens levarem um grupo de turistas para uma favela, para ele somente passar o olho e tirar suas fotografias, pois o Turismo sustentável vai muito além disso, ele se baseia na ligação responsável do social, econômico e ambiental. Portanto, a responsabilidade está nas mãos das empresas turísticas, elas é que devem reunir com os representantes dessas comunidades para buscar soluções que sejam boas e saudáveis, pois assim esse tipo de Turismo pode crescer cada vez mais, com o objetivo de interagir pessoas de culturas bem diferentes, ajudar o próximo pelo gesto mais simples, criar oportunidade de emprego para as pessoas que moram na favela, proporcionar a autóctones e visitantes uma experiência de cognoscibilidade que é o amor ao estranho e realizar uma mudança de consciência a respeito da vida, nos turistas que vivem muito longe dessa realidade.

Muriel Cipriano disse...

Atualmente o “favelatour” é realizado com dezenas de turistas que se aventuram por lugares em que mesmo a polícia brasileira não tem coragem de pisar, mas os organizadores insistem que os passeios são seguros. Este tipo de turismo serve para que os turistas conheçam melhor o dia a dia da comunidade, mas será que os moradores não se sentem invadidos?
Para que isso não ocorra, a comunidade visitada deve apresentar uma ong fundada pelos próprios moradores para entrar em contato com o visitante e repassar suas experiências de maneira sadia, caso contrário não passa de uma exploração.
O "favelatour" proporciona maior renda aos moradores e comerciantes dos morros, pois podem vender diariamente a eles seus produtos: artesanatos, guloseimas, camisetas, etc. E as agencias que fornecem este tipo de pacote de turismo social, devem se comprometer em repassar parte do dinheiro arrecadado nesses passeios em projetos sociais na comunidade.

Tamara disse...

Acredito que o Turismo de favela, não é usurpadora de dignidade, ao contrário,os visitantes vêem a realidade de forma diferente, apenas pessoas humildes tentando sobreviver.
Diria, que ao contrário de dignidade, as visitas "tiram" a privacidade dos moradores, já que as moradias não são totalmente fechadas, e onde há turista, há uma máquina fotográfica pronto para qualquer clique. Sim, acredito que a curiosidade dos turistas não resolva os problemas, pois como nas estatísticas esclarecem, as favelas recebem cerca de 3,5 mil por mês, um número de pessoas que se estivessem interessadas em resolver tal situação, não estaria como está atualmente. As pessoas gostam de ver o diferente de seu habitual, mas nem sempre estão dispostas á ajudarem á transformar.O que por um lado pode ser "bom", já que assim, sempre haverá visitas, e os orgãos envolvidos com a atividade turística (agências, secretarias...) sempre virão a ganhar nas custas dos estrangeiros, nem mesmo importando com o papel social.

Juliane disse...

Como exposto na primeira reportagem do blog, acredito que essa prática de Turismo seja baseada em "uma coisa experimentada momentaneamente e depois esquecida completamente".

O Turista pertence a outra realidade, e por mais que tenha intenção de 'melhorar' as coisas ao seu redor, os visitados não serão beneficiados.
Primeiro porque a 'consciência social' não surge de algo que é visto, mas sim vivido. Depois, que se esse Turismo de Favelas propiciar algum dinheiro às comunidades e as mesmas sofrerem alguma alteração, o turista não 'participará' da realidade daquele local e/ou o Turismo de Favela não terá validade.

Ainda baseado no texto, "não há diálogo, apenas alguns comentários ocasionais". Então como dizer que o turista terá a percepção da realidade do local? Ou ainda, como esperar que o turista possa "empreender alguma ação em seu país de origem" se o mesmo só 'experimenta visualmente' o destino?

Acredito que esse tipo de turismo não ajude, melhore ou desenvolva a realidade das favelas visitadas. Tampouco, os moradores que ali residem.

Darclíoce Nara disse...

Apartir do momento em que não é imposto ao morador e sim feito uma proposta visando melhorias para a própria comunidade, não vejo o Turismo de Favela como usurpador de dignidade. Favela não é só pobreza, nestes passeios os turistas veêm de perto a diversidade cultural e o desenvolvimento social local.
Conforme mostra o projeto Rio top Tour: Segundo informações do Ministério do Turismo, o projeto Rio Top Tour irá trabalhar o potencial turístico no morro Dona Marta em Botafogo, através da inclusão dos próprios moradores.
"O programa prevê a instalação de sinalização bilíngue e a divulgação turística da comunidade. Moradores foram treinados e capacitados para trabalhar como guias na favela, que já recebeu celebridades americanas como o cantor Michael Jackson e a cantora Beyoncé. Uma série de eventos culturais estão programados para acontecer a partir de outubro, no morro Dona Marta, como festival de jazz, desfiles de moda e festival de funk e grafite. Também está previsto um programa de microcrédito para os membros da comunidade." (disponível em http://g1.globo.com/politica/noticia/2010/08/lula-lanca-projeto-piloto-de-turismo-em-favela-pacificada-no-rio.html).

Flavia V. disse...

devemos analisar os dois lados bem distintos desse assunto. não a como negar que o turismo tras rendimentos a populaçao, aumentando assim seu poder de compra e elevando suas condiçoes de vida.por outro lado, não podemos esquecer que tal abertura do estilo de vida dessa população, põe em exposição as pessimas condiçoes de vida dos mesmos, os expondo a um nivel de marginalização desnecessaria perante as outras culturas e povos que os visitam.